Não gosto de posar do tipo ‘filósofo de esquina’, tampouco fazer devaneios sobre vidas alheias, mas há momentos que pego a pensar profundamente sobre o quanto é tão difícil fazer as pessoas entenderem o quanto é importante – e fácil! – se preservar de doenças causadas por ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis). Pelo que já existe de informação, e também de acesso a ela, seria até possível pensar no ‘mundo ideal’ onde não tivéssemos mais que enfrentar esses problemas da vida.
Estudos, nacionais e internacionais, apontam para o aumento da negligência no uso de preservativos. Em reportagens publicadas na imprensa brasileira no final do mês de fevereiro de 2023, o Unaids – programa das Nações Unidas desenvolvido para prevenir o avanço do HIV – mostrou que, entre 2010 e 2018, a taxa de transmissão do vírus no Brasil cresceu 21%, enquanto sofreu queda de 16% no mundo.
Os dados são assustadores e não se referem apenas a doenças, mas a um outro problema social: gestações não planejadas. Uma matéria no site do jornal Estado de Minas revela que dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc/SUS) indicaram que um em cada sete nascimentos é oriundos de mães adolescentes. E, ainda dentro deste mesmo tema, o mais recente estudo da Famivita revelou que 64% da população não costuma utilizar preservativos na relação sexual.
Ainda segundo o Estado de Minas, em se tratando da faixa etária, do total geral de integrantes do estudo, 72% apontaram não ter o costume de usar camisinha, na idade entre 40 a 44 anos. Referente ao grupo dos 25 aos 29 anos, 68% explicaram não fazer essa utilização. E o pior de toda essa informação: o estudo também trouxe informação que 92% dos entrevistados têm ciência de que o preservativo evita as ISTs.
Há, ainda, diferenças gritantes entre as regiões. Enquanto os dados coletados revelaram que no Distrito Federal 52% dos participantes têm o hábito de usar preservativo. No Estado do Ceará, 43%; em Minas Gerais, esse número foi de 29%; no Rio de Janeiro, de 32%; e no Rio Grande Norte, 15%.
Pela minha experiência como presidente do Caphiv, onde desenvolvemos atividades cotidianas de informação e prevenção às ISTs, posso afirmar que essa diferença demonstra também o quanto as políticas estaduais e, ainda, municipais podem ser definidoras na situação que as populações vivem em relação às doenças.
ORIENTAÇÃO – O Ministério da Saúde disponibiliza informações que são esclarecedoras para quem ainda acha que é “difícil” usar preservativo, tanto a “camisinha” – que é a mais popular, feita de látex e que deve ser colocada no pênis ereto antes da penetração – quanto a de uso feminino, que é feita de latex ou borracha nitrílica e é usada internamente na vagina, podendo ser colocada algumas horas antes da relação sexual, não sendo necessário aguardar a ereção do pênis.
Os preservativos masculino e feminino são distribuídos gratuitamente em qualquer serviço público de saúde. A retirada gratuita de preservativo é um direito e não devem ser impostas quaisquer barreiras ou condições para obtê-los. Retire quantos preservativos masculinos ou femininos você julgar que necessite.
Manusear a camisinha é muito fácil. Treine antes – assim você não erra na hora. Durante as preliminares, colocar a camisinha no(a) parceiro(a) pode se tornar um momento prazeroso. Só é preciso seguir o modo correto de uso. ATENÇÃO: nunca reutilize a camisinha e nunca use duas ao mesmo tempo, pois se romper ou estourar.
O uso do preservativo é simples, contribui para a saúde, e também é um excelente método contraceptivo. Eu me recordo que, um tempo depois do início da pandemia – cerca de três anos atrás – eu vi uma reportagem sobre algumas pessoas que entraram naquela ilusão de “não aconteceria comigo” – ou seja, que não se contaminariam com a Covid-19. Isso que é chamado como “ilusão” pelos psicólogos também acontece em relação ao uso de preservativos e a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
Mas nós não temos o controle de toda a situação. Se colocar em risco a uma doença é, não só negligência, mas de certa forma uma forma de arrogância perante a vida – para não dizer “burrice”, se pensarmos que são informações acessíveis. Como eu sempre digo, ninguém pularia de um prédio de 15 andares sem um paraquedas ou qualquer outro equipamento que pudesse levá-lo em terra firme com segurança.
Usar preservativo é esse paraquedas, é essa asa-delta, que fará com que você possa viver aventuras prazerosas na vida, sem colocar sua vida em risco.
E não é que hoje eu estou um pouco filósofo!? Cuide-se; preserve-se!
A sua saúde vale a sua vida!
Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids e Heptatites Virais).
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