Como fiz na semana passada – em que alertei sobre a mistura de bebidas alcoólicas e energéticos –, nesta edição eu trago uma outra preocupação que me segue: o narguilé. Instrumento ligado à cultura árabe, se tornou ‘moda’ no Brasil – e aqui, faço um comentário mais pessoal, também entre muitos amigos! –, porém guarda diversos perigos que são importantes serem difundidos, sempre com o objetivo de prevenir a saúde.
O assunto tem sido uma preocupação de autoridades e entidades ligadas à saúde no País. Em 2019, o narguilé e a saúde pulmonar foi tema do Dia Nacional de Combate ao Fumo – lembrado anualmente sempre em 29 de agosto.
Um hábito crescente, sobretudo entre os jovens, o uso do narguilé representa um grande perigo à saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que apenas uma hora de uso equivale a tragar 100 cigarros. O consumo pode levar ao aparecimento de câncer de pulmão, doenças cardíacas e respiratórias, além de também causar dependência.
O narguilé possui uma característica peculiar: um único cachimbo pode ser usado por várias pessoas simultaneamente. Tal fato reforça o seu aspecto de socialização, algo muito atraente, especialmente para os jovens. Além disso, há a falsa sensação de que o narguilé, por ser usado com água, não causa mal à saúde.
O aparelho é um tipo de cachimbo de água, de origem oriental, destinado a fumar tabaco aromatizado. É muito utilizado por hindus, persas e turcos. Mas, já disseminado por todo o mundo, o objeto é constituído de um fornilho, um tubo longo, pelo qual passa a fumaça antes de chegar à boca, e um pequeno recipiente, originalmente usado para armazenar água perfumada.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), em 2015, 212 mil brasileiros eram usuários. Desse total, 63% tinham de 18 a 29 anos. Cada uso pode durar, em média, de 20 a 80 minutos. “O principal problema do uso de narguilé é desenvolver a dependência da nicotina, uma vez que, no tabaco do narguilé, há maior concentração da substância. Também temos uma grande inalação de CO2 (dióxido de carbono ou gás carbônico) e outros tóxicos, como no tabaco”, alertou o médico da Secretaria de Saúde, Carlos Viegas.
PERIGO – De acordo com o Ministério da Saúde, a substância contém nicotina e outros 4.700 ingredientes tóxicos. Após uma sessão de 45 minutos, aumentam a concentração de nicotina e monóxido de carbono no organismo. Com isso, os batimentos cardíacos se aceleram e ainda ocorre uma exposição intensa a metais pesados, altamente tóxicos e de difícil eliminação, como o cádmio.
“A fumaça do narguilé tem as mesmas substâncias tóxicas que a fumaça do cigarro e algumas até em maior concentração. Por isso, seu uso crônico pode desencadear as mesmas doenças que o uso do cigarro”, alertou o médico.
Outra preocupação de Viegas é que muitos usuários de narguilé misturam maconha ao tabaco e, em vez de água, colocam bebida destilada, como vodca. “Dessa maneira, os efeitos podem ser ainda mais devastadores, porque a pessoa estará usando três drogas ao mesmo tempo: nicotina, maconha e álcool”, concluiu.
PROGRAMA NACIONAL – O uso do tabaco passou a ser identificado como fator de risco para uma série de doenças a partir da década de 1950. No Brasil, na década de 1970, começaram a surgir movimentos de controle do tabagismo liderados por profissionais de saúde e sociedades médicas. A atuação governamental, no nível federal, começou a institucionalizar-se em 1985 com a constituição do Grupo Assessor para o Controle do Tabagismo no Brasil e, em 1986, com a criação do Programa Nacional de Combate ao Fumo.
Desta forma, desde o final da década de 1980, sob a ótica da promoção da saúde, a gestão e governança do controle do tabagismo no Brasil vêm sendo articuladas pelo Ministério da Saúde através do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o que inclui um conjunto de ações nacionais que compõem o Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT). O Programa tem como objetivo reduzir a prevalência de fumantes e a consequente morbimortalidade relacionada ao consumo de derivados do tabaco no Brasil seguindo um modelo lógico no qual ações educativas, de comunicação, de atenção à saúde, junto com o apoio, a adoção ou cumprimento de medidas legislativas e econômicas.
Em novembro de 2005, o Brasil ratificou a Convenção-Quadro da OMS para o Controle do Tabaco (CQCT/OMS), primeiro tratado internacional de saúde pública que tem como objetivo conter a epidemia global do tabagismo. A implantação do Programa Nacional de Controle do Tabagismo passa então a fazer parte da Política Nacional de Controle do Tabaco, que é orientada ao cumprimento das medidas e diretrizes da CQCT/OMS pelo país.
Embora as informações sobre os riscos do tabaco – e sobretudo do narguilé – sejam bastante difundidas, ainda há muitas pessoas com o hábito de fumar no País. O nosso papel, aqui nesta coluna semana, é alertar, com o intuito de prevenir doenças e contribuir para a melhoria da qualidade de vida. Se você é fumante, busque informações e tratamentos para que possa deixar esse vício e viver com mais saúde.
Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids e Heptatites Virais).
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