Como tenho feito neste mês de janeiro, aproveito esse espaço para alertar sobre alguns comportamentos que, muitas vezes tidos como ‘inofensivos’, na verdade são verdadeiras bombas contra a saúde. Na primeira coluna do mês, tratei da mistura perigosa entre bebidas alcoólicas e os energéticos; na semana passada, trouxe aqui a situação dos narguilés, que muitas vezes se ‘disfarçam’ na fumaça fina de seu cachimbo.
Hoje, trago aqui a situação em torno do LSD (dietilamida do ácido lisérgico), popularmente conhecido como “doce” e “ácido”, uma das drogas mais populares nas baladas. É uma substância sintética pertencente ao grupo dos alucinógenos, droga produzida em laboratório capaz de alterar percepções, pensamentos e sentimentos. Ao consumir o LSD, a pessoa pode sentir, ouvir e ver coisas mesmo sem um estímulo tátil, auditivo e visual.
Um artigo publicado no site do Hospital Santa Mônica, da cidade de Itapecerica da Serra-SP, lembra que os efeitos do LSD foram descobertos pelo químico suíço Albert Hofmann, em 1943, cinco anos após ter criado a droga por meio da síntese do ácido lisérgico — substância presente em um fungo que ataca o centeio e outros grãos — enquanto realizava pesquisas para desenvolver um remédio para enxaqueca. Ao aspirar acidentalmente, Hofmann começou a ter alucinações e delírios.
Desde então, o LSD despertou interesse científico e foi enviado para centros de pesquisa, médicos e psiquiatras de todo o mundo para ser testado em diferentes aplicações e tratamentos. Porém, para além do uso medicinal, a partir dos anos 1960 a substância passou a ser amplamente consumida como droga recreativa pelos adeptos do movimento hippie.
Devido ao uso indiscriminado, às experiências negativas relatadas por alguns usuários e aos casos de vício em drogas, a produção, o comércio e o consumo do LSD foram proibidos na maioria dos países, inclusive no território brasileiro. Apesar de ter sumido por um tempo, a droga voltou a se popularizar nos últimos anos, como uma das Club Drugs, principalmente entre jovens e adolescentes, que costumam consumi-la em bares, boates, shows e festas.
Ainda no artigo do site do Hospital Santa Mônica – que você pode ler na integra no endereço https://hospitalsantamonica.com.br –, o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, realizado pela Unidade de Pesquisa de Álcool e Drogas/Unifesp (UNIAD) em 2012, aponta que 1,4% dos adolescentes brasileiros já usaram alucinógenos alguma vez na vida; essa proporção cai para 0,9% entre os adultos. Na pesquisa, foram entrevistadas pessoas com idade igual ou superior a 14 anos, sendo consideradas adultas as com mais de 18 anos. O estudo destaca que a população de rua não entrou na amostra.
COMO O LSD AGE NO ORGANISMO -O LSD é considerado o alucinógeno mais potente que existe. Microgramas dessa substância são capazes de causar efeitos significativos, como perda da noção de tempo e espaço. A droga é metabolizada no fígado e, ao entrar na corrente sanguínea, age no sistema nervoso central, causando alterações físicas e mentais, sendo rapidamente eliminada pelo organismo.
Na forma pura, o LSD é incolor, não tem cheiro e tem um leve gosto amargo. É vendido em forma de micropontos, líquido, cápsula, papel absorvente ou tiras de gelatina. Os efeitos mais comuns dessa droga costumam aparecer de 20 a 90 minutos após o uso e demoram de 6 a 12 horas para passar.
EFEITOS FÍSICOS – Assim que tem início a ação do LSD, os usuários normalmente começam a sentir sintomas físicos como tremores, elevação da temperatura corporal, dilatação das pupilas, rápido aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, sudorese acentuada e boca seca. Depois de algum tempo, outros efeitos podem aparecer, como náuseas, vômito, perda de apetite, cansaço, problemas de coordenação, tontura e insônia.
EFEITOS PSÍQUICOS – Por ser um alucinógeno, o LSD causa delírios, alucinações, confusão mental e sinestesia — condição neurológica na qual os sentidos se misturam ou se confundem, como sentir cheiro pelo tato ou ver sons, por exemplo. Distorções das cores, movimentos e imagens também são sintomas recorrentes.
Após o uso, a pessoa pode deixar de distinguir o real do imaginário ou ter dificuldade de pensar e se comunicar de forma racional. Pode haver alterações repentinas de humor, como medo, felicidade, raiva, tristeza, excitação, agressividade e euforia. Em alguns casos, a pessoa tem comportamentos impulsivos, estranhos e até mesmo perigosos.
RISCOS DO USO REGULAR – Quem usa LSD costuma criar tolerância à droga e começa a recorrer a outras substâncias alucinógenas ou a ingerir doses cada vez maiores para sentir o mesmo efeito que antes. O consumo exagerado pode trazer sérios riscos à saúde, pois seus efeitos são imprevisíveis, e o corpo pode ter dificuldades em metabolizá-la, levando a sintomas persistentes, como distúrbios visuais, paranoia, pensamento desorganizado e mudanças de humor.
Alguns usuários perdem a capacidade de avaliar situações de perigo, têm comportamentos violentos ou sentem como se fossem invencíveis e tivessem habilidades sobrenaturais, como voar, flutuar ou andar sobre as águas. Isso coloca em risco a vida dessas pessoas e de quem está ao seu redor, pois não há controle sobre as suas ações e perde-se a noção da realidade, o que pode levar à morte.
Há ainda o chamado “flashback”, uma desordem de percepção persistente alucinógena, na qual o usuário revive algumas experiências da droga dentro de alguns dias, semanas, meses ou mais de um ano após o consumo da substância. Na maioria das vezes, esse sintoma ocorre sem aviso prévio, podendo interferir na rotina da pessoa. O uso regular de LSD também pode contribuir para o desenvolvimento ou o agravamento de transtornos mentais, como depressão, ansiedade, psicose e esquizofrenia. (Fonte: Site do Hospital Santa Mônica)
Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids e Heptatites Virais).
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