Sobre Paulo Soares

Paulo Soares é um dedicado líder comunitário com uma longa trajetória na defesa dos direitos das pessoas vivendo com HIV e AIDS. Ativo na CAPHIV, Paulo é reconhecido por seu trabalho incansável em prol da saúde, inclusão social e apoio às pessoas em situação de vulnerabilidade. Sua trajetória é marcada pelo compromisso com a solidariedade e a transformação social.

Publicado em:
13 de setembro de 2024

Falta de campanha e tabus: Aids na população idosa

Na semana passada, eu trouxe neste espaço a campanha Junho Violeta, a qual trata da defesa da dignidade da pessoa idosa. Já que estamos no mês em que esse tema cresce em evidência – e também porque minha especialidade é atuar na prevenção às ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) –, gostaria de trazer um tema que, embora seja pouco falado, é bastante relevante: a incidência da Aids em idosos.
Pela rápida pesquisa que eu pude realizar, para trazer o tema nesta semana, posso afirmar que há duas questões primordiais para o apagamento desta discussão: o primeiro é a falta de campanha direcionada a esse público; e o segundo aspecto é o tabu em torno da vida sexual da população idosa — o que os torna mais vulneráveis.
Reportagem publicada no site Agencia Aids, com informações do IG Queer, apresenta um panorama bem completo sobre essa questão, a qual eu transcrevo trechos. Quem tiver o interesse de acessar, o link é agenciaaids.com.br/noticia/ig-queer-casos-novos-de-hiv-em-idosos-crescem-125-em-12-anos.

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A infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas Gisele Cristina Gosuen, responsável por um ambulatório da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que acompanha pessoas idosas que vivem com HIV, explica que quando se estuda a manifestação do vírus nesta população são consideradas a partir de 50 anos.
Segundo o Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2021, do Ministério da Saúde, entre 2007 e 2009 foram notificados 2.383 casos de HIV nesta população. Já em 2019, quando houve um pico de casos novos, foram 5.469 novas pessoas idosas com HIV, o que representa um salto de 129% em registros novos comparando os dois períodos.
“Ouço muito ainda das pacientes que o preservativo é apenas para evitar a gravidez e uma vez que elas não correm mais este risco não veem razão para utilizar. Já os homens relacionam o uso do preservativo apenas com profissionais do sexo”, afirma.
Sobre os homens, o Boletim Epidemiológico indica que entre 2007 e 2021, 52,1% dos casos foram decorrentes de exposição homossexual ou bissexual. Gisele afirma que no ambulatório da Unifesp são atendidas cerca de 300 pessoas e, na sua maioria, homens que fazem sexo com outros homens – o que ainda fomenta o estigma do HIV às pessoas LGBTQIAPN+.
A profissional de saúde acrescenta que as medicações para disfunção erétil, também impactam neste aumento de infecção ao longo dos anos, além das redes sociais com os aplicativos de relacionamento, que trouxeram mais possibilidades de encontros e parceiros sexuais, mesmo que essa população não seja tão antenada com tecnologia.
“Os bailes da terceira idade trazem mais movimentação para vida sexual do idoso. Esses conjuntos de fatores contribuem para que ocorra o aumento de casos”, afirma.
Para o infectologista Vinicius Borges, especializado em saúde LGBT+, outro ponto que contribui para este aumento de casos de HIV na população idosa ao longo dos anos é o tabu sobre a sexualidade nesta faixa etária : “Além de muitas destas pessoas não terem tido a oportunidade de debater sexualidade na juventude, na vida adulta e idosa elas têm a sexualidade invisibilizada, principalmente se forem LGBT+”.
O médico afirma ainda que é responsabilidade dos profissionais de saúde, quando abordam prevenção, HIV, ISTs e desejo sexual, incluírem os idosos nesta discussão, para que ela não fique privada de informação e acesso às tecnologias de prevenção. “Invisibilizar a função sexual do idoso é deixar ele mais vulnerável”, afirma.
Outro ponto que o profissional aborda são os mecanismos de comunicação sobre vida sexual para esta população, em especial a LGBT+, que não são os mesmos para os mais jovens. Ele acredita que a melhor forma é estimular a conversa nos consultórios.
“Quando um idoso procura serviço de saúde para verificar alguma questão específica, o profissional precisa perguntar sobre a rotina sexual porque o idoso em si pode não se sentir confortável em abordar o tema, principalmente pelo medo da LGBTfobia, quando parte da comunidade. É importante que os profissionais sejam melhor treinados a entender que função sexual não é só ereção e lubrificação vaginal”, alerta.

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No mês em que a defesa da dignidade da pessoa idosa ganha relevância, é importante discutirmos aspectos que se referem à saúde preventiva desta população. Você, profissional de saúde, saiba como abordar com os pacientes idosos e LGBTs, isso pode oferecer qualidade de vida e, ainda mais, também pode salvar vidas.

Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids, Sífilis e Heptatites Virais).

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