Os perigos do uso de drogas na gestação

Sobre Paulo Soares

Paulo Soares é um dedicado líder comunitário com uma longa trajetória na defesa dos direitos das pessoas vivendo com HIV e AIDS. Ativo na CAPHIV, Paulo é reconhecido por seu trabalho incansável em prol da saúde, inclusão social e apoio às pessoas em situação de vulnerabilidade. Sua trajetória é marcada pelo compromisso com a solidariedade e a transformação social.

Publicado em:
13 de setembro de 2024

A gestação é um momento especial, e disso ninguém dúvida. Mas muito além das idealizações que se faz em torno deste período único na vida de tantas mulheres, há situações que, embora pareçam “irreais”, na verdade são mais comuns do que se imagina. O uso de drogas durante a gravidez é uma triste realidade e que, a cada ano, tem preocupado as autoridades de saúde
Em um artigo publicado em novembro de 2018, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia informava que o uso de drogas por gestantes tem crescido no mundo, incluindo o Brasil. Com números sobre a realidade dos Estados Unidos, a entidade alertava que 5% relataram ter usado droga ilícita durante o período, sendo mais comum cannabis, mas também lícitas, como bebidas alcoólicas, “o que pode resultar em uma significativa morbilidade e mortalidade materna, fetal e neonatal”, escreve.
No mesmo artigo, a Fesbrago detalha que, em geral, as mulheres grávidas drogaditas são menos propensas a procurar cuidado pré-natal e têm taxas mais elevadas de HIV, hepatite e outras infecções sexualmente transmissíveis. “A pesquisa para o uso de drogas deve fazer parte do cuidado obstétrico. A estratégia pesquisar, rápida intervenção e encaminhamento para tratamento é a abordagem ideal”, alerta a entidade.
Dentre os problemas mais comuns, encontrados em mulheres grávidas usuárias de drogas, são transtornos devidos ao uso da cocaína e transtornos devidos ao uso de múltiplas drogas e outras substâncias psicoativas. Por isso, vale trazer ainda o detalhamento que o artigo da Febrasgo apresenta, detalhando as características dos malefícios de cada tipo de droga.
As informações são baseadas em estudo da médica Venina Isabel Poço Viana Leme de Barros, mestre e doutora em Medicina pela Faculdade da USP, membro da Comissão Nacional de Pré-natal da Febrasgo e médica assistente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

CANABIS
O princípio ativo da maconha é o delta-9-tetrahidrocanabinol, substância que atravessa com facilidade a barreira placentária. A utilização de canabis pelas mães leva a uma redução significativa, tanto no início como na duração, da amamentação. Em relação aos resultados do uso da maconha sobre o feto, há dificuldade para sua identificação precisa, pois há alta prevalência de pacientes que a usam concomitantemente a outras drogas, incluindo álcool e cigarro. Foi verificado o aumento do risco de malformações em mulheres que fizeram uso de maconha durante o pré-natal. Em relação aos efeitos tardios para as crianças, foram relatados transtornos cognitivos e emocionais.

COCAÍNA
O uso de cocaína na gravidez está associado a convulsões, ruptura prematura das membranas e descolamento prematuro da placenta. Pode levar ainda a pré-eclâmpsia grave, aborto espontâneo, parto prematuro e complicações no parto. Estas gestantes devem receber cuidados médicos e psicológicos adequados, incluindo o tratamento de dependência, para reduzir esses riscos. Os fetos expostos ao uso da cocaína são frequentemente prematuros, têm baixo peso ao nascer, circunferência cefálica menor e menor estatura quando comparados a recém-nascidos não expostos.

HEROÍNA (OPIÁCEOS)
Os tipos de opiáceos mais importantes são morfina, codeína, meperidina, metadona, heroína e oxicodona. O uso na gravidez aumentou drasticamente nos últimos anos, em paralelo com a epidemia observada na população em geral, levando a um aumento da mortalidade materna. Os opiáceos, como a heroína, raramente causam anomalias congênitas, mas como atravessam a barreira placentária podem levar à síndrome da abstinência fetal, cujos sintomas são: irritabilidade, choro excessivo, nervosismo, vômitos e diarreia. Há uma maior incidência de parto prematuro, principalmente quando associado ao uso concomitante de tabaco.

“ECSTASY” (MDMA)
O que se conhece com o nome de “ecstasy” é um derivado da molécula de anfetamina. A exposição durante a gravidez foi associada à morbidade e mortalidade materna e neonatal: aumento de duas a quatro vezes no risco de restrição do crescimento fetal, pré-eclâmpsia, descolamento prematuro da placenta, parto prematuro, morte fetal, morte neonatal e morte infantil.

ESTIMULANTES
A exposição a anfetamina durante os períodos do pós-parto precoce e tardio interrompem a interação mãe-bebê e encurta a duração da amamentação.

Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids e Heptatites Virais).

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