No conhecimento médio, o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana, na sigla em inglês) é sempre associado à Aids (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida), mas já explicamos que elas questões que, embora associadas uma a outra, são diferentes. Agora, nesta edição, quero mostrar a vocês que o HIV não é uma coisa só. Há diferentes tipos do HIV. Na comunidade médica e científica, são denominados como tipo 1 e tipo 2.
O site ‘Eu Médico Residente’ (www.eumedicoresidente.com.br), que, aliás, tem ótimos conteúdos, traz um longo material sobre as diferenças, sintomas e tratamentos entre os dois tipos de HIV, que ainda é muito prevalente no mundo, com 36,2 milhões de casos, e que, como todos já sabemos, traz graves consequências devido ao estado de imunodeficiência que produz, tornando o indivíduo vulnerável a infecções e tumores oportunistas.
A infecção crônica por esse patógeno causa um processo inflamatório crônico, que está associado a complicações metabólicas, como aumento do risco cardiovascular. Mas, vamos lá, entender um pouco sobre as diferenças entre os subtipos virais: HIV 1 é amplamente disseminado e é o maior responsável pela pandemia de HIV; e o HIV-2 se concentra em algumas regiões específicas, principalmente no oeste africano, onde é endêmico.
TRANSMISSÃO – Os dois subtipos possuem meios semelhantes de transmissão, sendo o principal por relação sexual desprotegida, além de exposição a sangue e contaminação perinatal. Mas o HIV-2 é menos infeccioso que o HIV-1, e está associado a menores níveis de viremia (quantidade de vírus no sangue). Nos pacientes infectados por HIV-2, há menor liberação de vírus pela região genital, tornando a infecção por via sexual menos eficiente.
Além de ser menos infeccioso, o HIV-2 é menos patogênico que o HIV-1 e provoca uma queda mais lenta dos níveis de linfócitos CD4+. Por essas razões, a fase assintomática da infecção por HIV-2 é mais longa do que no HIV-1: em média o tipo 2 demora 14 anos para produzir o estágio da AIDS, ao passo que o tipo 1 demora seis anos.
A menor virulência do HIV-2 também está associada a menores níveis de mortalidade nos pacientes infectados, inclusive, mesmo comparando dois pacientes infectados com tipos diferentes, mas com contagens de CD4+ iguais, a mortalidade associada ao vírus tipo 2 é menor. Mas a mortalidade se iguala em pacientes com doença avançada.
PRINCIPAIS SINTOMAS – Os sintomas produzidos pelos dois tipos virais são semelhantes, assim como as infecções oportunistas. Algumas pessoas desenvolvem após 2-4 semanas da infecção, um quadro de Síndrome Retroviral Aguda, que se manifesta como uma síndrome mononucleose-like (febre, faringite e linfadenopatia generalizada), mas com duração autolimitada. Após esse quadro, os pacientes entram em uma longa fase assintomática, que dura em torno de 10 anos, mas é mais longa no HIV-2, e praticamente a única manifestação possível é a linfadenopatia generalizada. Ambos os vírus provocam queda progressiva dos níveis de linfócitos CD4+, até que atingem a fase de AIDS, determinada por níveis de CD4+ <200 células/mm³ ou pelo desenvolvimento de doenças definidoras de AIDS (como candidíase esofageana, pneumocistose pulmonar, sarcoma de Kaposi). A possibilidade da infecção pelo subtipo 2 deve ser considerada em pacientes que possuem vínculo epidemiológico. E ainda, naqueles que apresentam confirmação sorológica da infecção, mas com carga viral muito baixa ou indetectável, ou que apresentam queda dos níveis de CD4+ mesmo com o uso de Terapia Antirretroviral (TARV).
DIAGNÓSTICO – A infecção pelo HIV-1 é confirmada através de testes sorológicos, em geral basta um teste de imunoensaio enzimático reagente (ELISA) e um teste confirmatório como o Imunoblot, WesternBlot, ou testes moleculares. O diagnóstico também pode ser feito utilizando testes rápidos a base de imunocromatografia, sendo que dois testes rápidos de tipos diferentes positivos já confirmam a infecção. Após o diagnóstico, deve-se dosar a carga viral.
Os testes sorológicos para HIV-1 podem ser reagentes por reação cruzada ao HIV-2, mas também podem não detectar esse tipo viral. Desse modo, na suspeita de infecção pelo tipo 2 deve-se usar os testes específicos para ele. Entretanto, não são amplamente disponíveis, dessa maneira é necessário enviar as amostras para o Laboratório Nacional de Referência para esse subtipo. Para realizar esse procedimento é necessário o preenchimento de pelo menos um critério de suspeição, dentre eles, vínculo epidemiológico com países endêmicos para HIV-2 (África Ocidental) ou parcerias sexuais provenientes desses países ou com diagnóstico de HIV-2, entre outros.
Para o subtipo 1 existe uma ampla disponibilidade de drogas, sendo o esquema preferencial atualmente Tenofovir (TDF) + Lamivudina (3TC) + Dolutegravir (DTG). Já para o 2, muitas das drogas disponíveis são ineficazes. O HIV-2 desenvolve resistência mais rapidamente. E após o início do tratamento, os pacientes apresentam recuperação da contagem de CD4+ mais lentamente que os infectados por HIV-1. Nos pacientes com o subtipo 2, o acompanhamento da carga viral é mais complexo, pela indisponibilidade do exame. Deste modo, o monitoramento da resposta é feito principalmente através da avaliação da contagem de CD4+, que deve ser dosada a cada 6 meses em pacientes estáveis.
É importante saber as diferenças entre os subtipos de HIV. Vale lembrar que o principal responsável pela pandemia do HIV no mundo é o HIV-1, mas é importante conhecer as características associadas ao HIV-2, para saber quando suspeitar dessa condição e como tratá-la adequadamente.
Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids, Sífilis e Hepatites Virais)
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